Traqueostomia

 A traqueostomia é um procedimento vital em muitos casos de insuficiência respiratória ou obstrução das vias aéreas. Além de salvar vidas, pode melhorar a qualidade de vida de pacientes crônicos. Entender suas indicações e cuidados é essencial para pacientes, familiares e cuidadores. Entenda mais sobre esse assunto!

Introdução

A traqueostomia é um procedimento cirúrgico que consiste na abertura da traqueia na parte anterior do pescoço para inserção de um tubo, permitindo a respiração direta por essa via. 

É indicada em casos de obstrução das vias aéreas superiores, ventilação mecânica prolongada ou doenças neurológicas que comprometem a respiração. 

Além de salvar vidas, pode proporcionar maior conforto ao paciente com dificuldade respiratória crônica. 

Neste artigo, abordaremos as indicações deste procedimento, como ele é realizado e quais os cuidados necessários no período pós-operatório. Leia até o final e saiba mais!

Quais as indicações desse procedimento

A traqueostomia é indicada em situações em que há risco ou dificuldade de manter as vias aéreas superiores desobstruídas ou quando a ventilação mecânica precisa ser prolongada. Entre as principais indicações estão:

  • Obstrução das vias aéreas por tumores, traumas, infecções ou corpos estranhos
  • Necessidade de ventilação mecânica prolongada (geralmente acima de 7 a 10 dias)
  • Doenças neurológicas que comprometem a musculatura respiratória ou a deglutição (como esclerose lateral amiotrófica, AVC grave ou lesões medulares)
  • Secreção respiratória excessiva e dificuldade de eliminação por tosse ineficaz
  • Procedimentos cirúrgicos na cabeça e pescoço que exijam proteção das vias aéreas no pós-operatório

Além dessas, a traqueostomia pode ser realizada de forma eletiva para facilitar o desmame ventilatório em pacientes de UTI. 

A escolha do momento ideal depende da condição clínica do paciente, prognóstico e recursos disponíveis. 

Em muitos casos, ela é preferida ao uso prolongado de tubo orotraqueal, por proporcionar menor risco de lesão na laringe, maior conforto e melhor higiene das vias aéreas. 

A avaliação deve ser feita por uma equipe multiprofissional, incluindo cirurgião de cabeça e pescoço, intensivista e equipe de enfermagem.

Como é realizado esse procedimento

A traqueostomia pode ser realizada de forma cirúrgica ou percutânea. A técnica cirúrgica é a mais tradicional e indicada em situações de emergência, em crianças ou quando há alterações anatômicas que dificultam o procedimento percutâneo.

O procedimento geralmente segue as seguintes etapas:

  • O paciente é posicionado em decúbito dorsal, com o pescoço estendido
  • Realiza-se uma incisão horizontal ou vertical na região anterior do pescoço, sobre a traqueia
  • Os músculos do pescoço são afastados e a traqueia é identificada
  • Uma abertura (traqueostomia) é feita entre os aneis da traqueia, geralmente entre o segundo e o quarto anel traqueal
  • Um tubo de traqueostomia é inserido na abertura e fixado adequadamente

Na técnica percutânea, geralmente realizada em ambiente de UTI, utiliza-se punção e dilatadores progressivos para acessar a traqueia com auxílio de broncoscopia, o que permite visualização direta e maior segurança em pacientes selecionados.

Ambos os métodos exigem preparo adequado da equipe, esterilização rigorosa e equipamentos apropriados. 

A escolha da técnica depende das condições clínicas, da experiência da equipe e da urgência do procedimento. A correta execução é fundamental para evitar complicações, como sangramentos, lesão de estruturas adjacentes ou infecções.

Como é o período pós-operatório desse procedimento e quais os cuidados necessários

O pós-operatório da traqueostomia requer atenção especializada e cuidados contínuos para garantir boa cicatrização e prevenir complicações. O tempo de recuperação depende da condição do paciente e da causa da traqueostomia.

Cuidados imediatos e contínuos incluem:

  • Higienização regular do local com solução salina e gaze estéril
  • Troca e limpeza do tubo de traqueostomia conforme orientação médica e de enfermagem
  • Aspiração cuidadosa das secreções para manter as vias aéreas desobstruídas
  • Hidratação adequada para fluidificar o muco e facilitar a eliminação
  • Monitoramento constante de sinais de infecção, como vermelhidão, dor, secreção purulenta ou febre

Outros pontos importantes:

  • A comunicação do paciente pode ser comprometida; o uso de dispositivos de fala pode ser considerado conforme o tipo de cânula e condição clínica
  • A alimentação por via oral deve ser avaliada antes de ser retomada, para evitar aspiração
  • Em pacientes crônicos, o uso domiciliar exige treinamento da família e cuidadores

Em muitos casos, a traqueostomia é temporária e pode ser desfeita com a reconstituição da via aérea natural. No entanto, alguns pacientes necessitam do dispositivo de forma permanente. 

O acompanhamento multidisciplinar, com fisioterapia respiratória, fonoaudiologia e acompanhamento médico, é essencial para uma boa reabilitação.

Autor

Dr. Marcelo Schalch

CRM 164050-SP

RQE Nº 105906

  • Médico formado pela Faculdade de Medicina do ABC (FMABC).
  • Especialista em Cirurgia de Cabeça e Pescoço pelo Instituto do Câncer Doutor Arnaldo